25.11.09

O culto ao nazismo nas bancas de jornal



Uma rápida olhada nas bancas de jornal no mês de julho de 2009 revelou a ocorrência de um fenômeno editorial bastante significativo. Há um “boom” de publicações voltadas para a II Guerra Mundial, para o nazismo em especial, e para a figura de Hitler em particular.

Vejam-se os seguintes títulos:

- II Guerra Mundial – Edição Ilustrada – Campos de Concentração – A estratégia de extermínio de Hitler – Holocausto – Organização do Partido – Campos de concentração – Ed. Escala.

- Especial 70 anos da II Guerra – Grandes guerras – Tudo de novo no front – Dia D minuto a minuto – Ed. Abril.

- Coleção Battlefield – Aventuras na história – DVD – As maiores batalhas da II Guerra numa só coleção – A batalha da Grã-Bretanha - Ed. Abril.

- Stalingrado, um duelo mortal entre Hitler e Stalin – Aventuras na história – DVD – A batalha mais dramática da II Guerra Mundial – Ed. Abril.

- Hitler, simbologia e ocultismo – A história secreta do ditador – Anticristo, Lança de Longinus, Suástica, Nazismo, Forças Ocultas – Ed. Escala.

- Segunda Guerra – A história oficial e seus heróis anônimos – Ed. Universo dos livros.

- História revelada – A lança sagrada de Hitler – Os segredos do nazismo – Origem, filosofia, história, influência, simbologia – Ed. Universo dos livros.

- História ilustrada do nazismo – O poder e as conseqüências – 1933 – 45 – Vol. 2 – Ed. Larousse.

- Atlas II Guerra Mundial – Alemanha vs. Inglaterra – Livros Escala.

- História viva – 70 anos da Guerra Civil Espanhola – Ed. Duetto.

- Edição totalmente ilustrada – HOLOCAUSTO - A estratégia de purificação racial de Hitler – Ed. Escala.

- Hitler e os segredos do nazismo – Vol. 1 – Ed. Universo dos livros.

Aparentemente, isso pode significar uma simples curiosidade “inocente”, um interesse neutro pelo conhecimento histórico. Pode haver uma flutuação cíclica do interesse do público leitor, que vai de temas como o nazismo a outros fenômenos históricos, como as cruzadas ou o império romano. Entretanto, a continuidade dessa observação nos meses seguintes demonstrou a consistência do fenômeno. As publicações sobre o nazismo e Hitler continuaram “em cartaz”, e novas publicações apareceram.

Além disso, um exame mais cuidadoso dos títulos revela também que não se trata de simples curiosidade histórica ou interesse neutro. Títulos como “os segredos do nazismo”, “a mitologia”, “a simbologia”, “a filosofia”, “as sociedades secretas e o nazismo”; não têm nada de inocente ou neutro. São títulos pensados para tornar o objeto mais atraente. Disfarçadamente, o sensacionalismo esconde uma apologia do objeto, ajudando a alimentar o fascínio e o mistério.

Para completar, deparamo-nos com a quase total ausência de um contraponto ideológico a essa avalanche de lançamentos sobre o nazismo. Há um ou outro lançamento sobre Ernesto Che Guevara (ver por exemplo: Superinteressante – Aventuras na história – 50 anos da Revolução comunista – Cuba e Che – revista e DVD – Ed. Abril), e se bem que o Che sempre tenha sido um “fenômeno de vendas”, fato cujo significado ideológico também merece uma boa discussão, há uma esmagadora prevalência da direita sobre a esquerda nas bancas de jornal.

Estamos diante de um verdadeiro culto ao nazismo. É certo que não se pode julgar o livro pela capa. Seria preciso fazer o exame detalhado de cada uma dessas publicações para verificar a linha política que defendem. Certamente, nenhum autor ou editora cometerá a sandice de fazer uma apologia aberta do nazismo. Entretanto, independentemente do conteúdo, a simples aparição desse fenômeno editorial é ideologicamente significativo. As publicações podem até mesmo ser academicamente corretas ao mostrar as atrocidades que o nazismo cometeu, os campos de concentração, etc., mas isso funciona apenas como cobertura para uma apologia indireta do fenômeno. Há um gosto sádico no inconsciente coletivo sendo alimentado por esse tipo de mercadoria “inocente” irresponsavelmente cultivado pela indústria editorial. Para bom entendedor, meia palavra basta. É preciso saber tirar as conclusões políticas desse sinistro fenômeno ideológico em processamento nas profundezas da consciência social.

O aparecimento desse “boom” editorial, se não configura uma apologia explícita do nazismo, pode bem significar uma espécie de culto disfarçado. Se não há uma crítica e uma denúncia do nazismo, uma explicação do seu papel histórico de alternativa extrema da burguesia alemã em face da Grande Depressão, etc., a compreensão fica prejudicada. O leitor desavisado pode ser seduzido pelo apelo do visual, da simbologia, da sofisticada hierarquia do partido nazista, da disciplina, da ordem, da determinação “heróica”, do romantismo, etc.

Não basta a denúncia de que o nazismo exterminou milhões de judeus. É preciso explicar porque a burguesia alemã precisou do nazismo. Na década de 1930, o capitalismo desmoronava a olhos vistos e o desemprego atingia milhões de pessoas em todos os países ligados ao mercado mundial, desde os grandes impérios até as semi-colônias. Do outro lado havia o exemplo da União Soviética (mesmo sob o terror stalinista), com pleno emprego, industrialização e melhoria nas condições de vida. O movimento comunista internacional era uma ameaça concreta para a burguesia, pois mostrava uma alternativa palpável ao capitalismo em plena crise.

O nazismo cresceu explorando exatamente a divisão entre o stalinismo e a social-democracia. As duas principais forças da esquerda não se unificaram para combater a ascensão do nazismo e foram derrotadas nas disputas de rua no início da década de 1930. Hitler construiu um exército com bandos de lúmpens para espancar militantes de esquerda e aplastar sindicatos. Com isso o nazismo tornou-se alternativa para a burguesia alemã. A burguesia francesa e inglesa considerava a revolução socialista uma ameaça maior do que o próprio nazismo. Isso permitiu o rearmamento do imperialismo alemão, que precipitou a guerra.

O nazismo matou milhões de judeus, mas não apenas isso. A II Guerra provocou a morte de dezenas de milhões de trabalhadores de várias nacionalidades, além de outros tantos milhões de feridos e desabrigados, da destruição de recursos e forças produtivas, fábricas, infra-estrutura e cidades inteiras. Foi somente sobre a base dessa destruição que o capitalismo pôde se reerguer da crise mundial iniciada em 1929.

Resgatar essa história (há muitos outros detalhes a serem esclarecidos) é importante no cenário marcado por uma crise econômica que é a mais séria desde a Grande Depressão. Se a Depressão provocou uma destruição do tamanho daquela da II Guerra, algo semelhante pode estar se preparando no nosso presente. Por mais que os ideólogos do sistema digam que a atual crise “está superada”, nenhum dos problemas estruturais do capitalismo foram resolvidos (e nem podem sê-lo dentro dos marcos desse modo de produção). O capital fictício transbordando no mercado financeiro, o endividamento dos Estados, a emissão descontrolada de moeda, o desemprego, etc., são legados dessa crise que continuarão durante vários anos. A burguesia pode responder à insatisfação social por meio da guerra. Basta escolher o adversário: o Irã, a Coréia do Norte, a Venezuela, etc., ou ainda o terrorismo, as drogas, a violência, o crime, etc.

Por isso, não é coincidência o reaparecimento de golpes de Estado, como em Honduras. Assim como não é coincidência o fenômeno editorial do culto ao nazismo. Diante do recrudescimento das ações da direita, nenhuma concessão pode ser feita, sob qualquer forma em que apareça, mesmo as mais aparentemente “inocentes” como publicações sobre o nazismo, ou as ameaças contra uma estudante na Uniban. A disputa ideológica contra a decadência capitalista e suas doentias manifestações proto-fascistas precisa ser feita em todas as dimensões, apontando as alternativas contra as crises, as guerras, a miséria e a barbárie em todas as suas formas, uma alternativa que só pode ser o socialismo.

Daniel M. Delfino
15/11/2009

6.11.09

Guerra é Paz, 2 + 2 = 5 e Lula é medalha de ouro



Guerra é Paz

No livro “1984”, obra máxima da ficção científica e clássico da literatura do século XX, George Orwell descreve uma distopia (utopia ao contrário), uma realidade de pesadelo em que uma ditadura brutal controla a vida da sociedade por meio de instituições cujos nomes estão invertidos em relação às suas verdadeiras funções. O órgão encarregado de fazer a guerra era chamado de Ministério da Paz, o da repressão policial de Ministério do Amor, o de falsificar a realidade, Ministério da Verdade, o do racionamento, Ministério da Fartura, e assim por diante. A prova de que vivemos hoje em pleno mundo orwelliano foi escancarada no mês passado.

Em meados de outubro de 2009 o presidente dos Estados Unidos, Barack Hussein Obama, foi agraciado pela academia sueca com o Prêmio Nobel da Paz de 2009. Por esses mesmos dias, o total de soldados estadunidenses mobilizados no Afeganistão chegou a 65 mil, somando-se aos 124 mil postados no Iraque para completar o total de 189 mil combatentes. Esse número ultrapassa os 186 mil mobilizados por Bush, o que faz do oblíquo Obama um presidente ainda mais beligerante do que o seu mundialmente odiado predecessor (isso sem falar na escalada de violência no Paquistão, na reativação da IV Frota no Atlântico, na expansão das bases militares na Colômbia, etc.). Um mundo em que um presidente abertamente beligerante é premiado com o Nobel da Paz é um mundo em que tudo está de cabeça para baixo.

Essa inversão orwelliana da realidade é uma demonstração das sutilezas ideológicas de que a burguesia é capaz para perpetuar sua dominação. A própria eleição de Obama em 2008 foi uma manobra para reciclar a confiança da população estadunidense e mundial na viabilidade do capitalismo, no momento mesmo em que o sistema vivenciava a eclosão da crise econômica mais séria em 70 anos. O discurso de mudança serviu exatamente para encobrir a continuidade do programa político dos setores sociais que controlam o país, a burguesia financeira, o complexo industrial-militar e a indústria do petróleo. A imagem do negro, uma minoria oprimida e superexplorada, serviu para difundir a ilusão de que as vítimas do sistema seriam contempladas na nova administração, quando na realidade se tratava também do oposto, o aumento da exploração sobre os trabalhadores. Quando precisou endurecer o ataque contra a classe trabalhadora estadunidense, a burguesia daquele país engendrou justamente um presidente no qual amplos setores do proletariado nutriam grandes esperanças, em especial os setores mais pobres e explorados, como os negros, latinos, imigrantes, mulheres e jovens.

Os números da economia e a ideologia burguesa: 2 + 2 = 5

Essa necessidade de atacar a classe trabalhadora não era apenas da burguesia estadunidense, mas do conjunto dos países imperialistas colocados no epicentro da crise econômica. A tendência histórica de queda da taxa de lucro inerente ao capitalismo precisa ser enfrentada por meio do aumento da exploração do trabalho, que no atual momento é feito nas condições de um mercado mundializado que permite aos capitalistas comprar a força de trabalho onde essa mercadoria se apresentar mais barata. Como reflexo disso, os trabalhadores enfrentam em nível mundial uma queda nos seus salários e uma deterioração nas suas condições de vida. Um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostrou que “o aumento dos salários médios no mundo caiu, passando de 4,3% em 2007 para 1,4% em 2008. Os dados indicam que mais de 25% dos 53 países analisados registraram queda ou estagnação salarial” (BBC Brasil, 03/11/2009). Dados como os índices de desemprego nos Estados Unidos, que chegaram a 9,8% em outubro (17% considerando os trabalhadores subempregados ou que deixaram de procurar emprego), também são bastante eloqüentes no que se refere a mensurar os efeitos da crise econômica sobre os trabalhadores.

Números como esses, pouco divulgados na imprensa burguesa, contrastam com os números bombasticamente anunciados por toda parte para alardear uma suposta recuperação da economia estadunidense e mundial, um ano depois da eclosão da crise econômica. O crescimento de 3,5% do PIB estadunidense no 3º trimestre de 2009, interrompendo um ano de queda, deveu-se ao impacto de gastos governamentais para estimular as empresas e o consumo, como o programa “cash for clunkers” - literalmente dinheiro por sucata - uma linha de crédito oferecida pelo governo para quem trocasse carros usados por novos. A injeção de dinheiro do Estado nas empresas explica a subida do índice S&P 500, que mede a valorização das 500 maiores empresas com ações listadas na bolsa, e elevou-se em 60% desde março. Outro índice importante, o Dow Jones, subiu 50% desde sua maior baixa no auge da crise.

Gastos do governo estadunidense em isenções fiscais, programas de estímulo, empréstimos, estatizações, emissão de títulos, etc., num total que alcança US$ 23 trilhões desde o início da crise, são os responsáveis pelos “green shots”, como são chamados os supostos sinais de que a economia estaria a caminho da recuperação. Quanto mais incapaz de compreender o funcionamento das crises econômicas capitalistas, mais a ideologia burguesa se vê forçada a negar a realidade da crise e se refugiar em dados fragmentados e de curtíssimo prazo para se auto-tranqüilizar. Dentro da lógica burguesa, se as grandes empresas estão tendo lucro e as ações estão em alta, não há crise. A vida concreta das pessoas, dos trabalhadores em especial, não existe, não merece consideração.

Mas há dados que até mesmo os ideólogos burgueses mais empedernidos serão forçados a encarar. A emissão massiva de dinheiro pelo governo estadunidense para reativar a economia trouxe um alívio temporário nos últimos meses, mas provocará um sério problema a médio prazo, na medida em que o enorme endividamento ameaça corroer o próprio valor da moeda. O dólar se desvalorizou em 47% em relação ao ouro no período de novembro de 2008 a novembro de 2009. A possibilidade de colapso do dólar como moeda de reserva mundial é apenas mais uma das conseqüências da atual crise, que portanto está longe de ser resolvida, por mais que a matemática burguesa queira nos fazer crer que tudo vai bem.

Medalha de ouro em traição de classe

A batalha ideológica em torno dos números da economia é parte do operativo ideológico geral por meio do qual a burguesia cotidianamente reforça a crença na inevitabilidade do capitalismo e na inexistência de alternativas a esse sistema. Além da figura-chave de Obama, um dos pilares desse operativo ideológico global de defesa do capitalismo está em nosso próprio país: o presidente Lula, que sobressai depois da crise com elevadíssimos índices de popularidade. O governo Lula executa uma partilha da riqueza social entre a burocracia estatal e os grandes grupos econômicos burgueses nacionais e estrangeiros, de um modo que sobram migalhas para os programas de bolsa-esmola que mantém cativa sua base eleitoral entre os trabalhadores mais pobres.

O governo Lula não pratica um privatismo escancarado, que provocaria resistência popular, mas ao mesmo tempo não deixa de entregar as riquezas nacionais à burguesia. Abre-se o controle de empresas como o Banco do Brasil e a Petrobrás ao capital privado (inclusive estrangeiro), mas mantém-se um razoável nível de controle pela burocracia estatal. O caso do pré-sal é exemplar, pois um acordo em que a exploração do petróleo será feita por empresas privadas, inclusive estrangeiras, foi apresentado mentirosamente como tendo um caráter estatista e garantidor da soberania nacional. Para tornar palatável essa mentira, a Petrobrás terá um orçamento de R$ 250 milhões para publicidade em 2010 (Redação Terra, 31/10/2009).

A propaganda é a alma do negócio. A escolha do Rio de Janeiro para sede das Olimpíadas de 2016 sinaliza o reconhecimento da burguesia internacional ao papel do governo Lula como exemplo mundial de governo capaz de controlar os conflitos sociais e impedir o desenvolvimento de lutas dos trabalhadores, um exemplo a ser exportado para os demais países periféricos. O candidato à presidência do Uruguai pela Frente Ampla, José “Pepe” Mujica assim explica a importância do supremo mandatário brasileiro no cenário internacional: “Lula é um senhor presidente, com um grande número do parlamento que vota contra, e mesmo assim logra manejar um país com as dimensões do Brasil, com os problemas que tem. E por que ele consegue isso? Porque negocia, negocia e negocia, tem a paciência de um velho dirigente sindical. E esse é o espírito que devemos ter nesse tema. Aliás, aqui entre nós, deveríamos clonar o Lula pela América Latina” (entrevista para a revista Teoria e Debate – 21/10/2009).

Do Haiti a Honduras, o governo Lula exporta “know-how” em mistificação ideológica, com um discurso que aparenta ser de esquerda e práticas consistentemente de direita, sobretudo no que se refere a impedir o desenvolvimento de uma perspectiva política autônoma dos trabalhadores e na duríssima repressão sobre os setores em luta (operativo policial de guerra nas favelas, morte aos sem-terra no campo, endurecimento contra as greves, etc.).

A situação da classe trabalhadora

Também no Brasil o Estado foi usado para salvar o capital em crise e a conta está sendo passada para os trabalhadores. As políticas de ajuda do governo às grandes empresas, que totalizaram mais de R$ 480 bilhões, permitiram um aquecimento artificial do consumo (automóveis, eletrodomésticos da linha branca, materiais de construção): “Pesquisa do Instituto Datafolha divulgada na edição da Folha de S. Paulo neste domingo mostra que (...) o percentual dos entrevistados que possuem carro passou de 34% para 36%, assim como o percentual de donos de máquina de lavar subiu de 59% para 65%. (...) A classe que mais cresceu foi a B (média-alta), de 23% para 26%”(Redação Terra 01/11/2009).

Também no Brasil a ajuda às grandes empresas provocou aumento do endividamento público: “O setor público consolidado brasileiro registrou déficit primário de R$ 5,763 bilhões em setembro, pior resultado para o mês da série histórica iniciada em 2001. Em setembro de 2008, o resultado primário havia sido superavitário em R$ 6,618 bilhões. (...) A relação dívida/Produto Interno Bruto (PIB), como conseqüência, teve alta expressiva no mês e alcançou 44,9% do Produto Interno Bruto (PIB), frente a 44% do PIB em agosto, mostraram os dados divulgados pelo Banco Central ”(Reuters News 30/10/2009).

A economia pode crescer, as empresas podem lucrar e as bolsas de valores podem ter alta, sem que haja diminuição do desemprego e melhoria dos salários. Além de contar com apoio estatal, a burguesia brasileira também realizou ajustes estruturais nas empresas sob seu controle, impondo o aumento da exploração através da intensificação do trabalho.

Entretanto, o proletariado brasileiro não foi um coadjuvante passivo na encenação dessa pseudo-recuperação econômica. Houve lutas importantes em 2009, como a greve geral da USP e as campanhas salariais dos correios, metalúrgicos e bancários no 2º semestre, que lutaram contra esse aumento da exploração. Essas lutas de resistência não foram porém suficientes para romper o controle da situação política pela burguesia e pelo governo Lula.

Um componente essencial do método lulista de governar está no controle férreo dos principais organismos de luta dos trabalhadores (CUT, MST, UNE, etc.) pela Articulação/PT e seus satélites, que tem sido essencial para impedir que as greves como as que irromperam em 2009 desenvolvessem todo seu potencial de enfrentamento, permanecendo isoladas umas das outras e sem poder de atração sobre o restante da classe. O controle burocrático da Articulação e a maquinaria ideológica do governo Lula são alguns dos obstáculos a serem superados no atual processo de Reorganização da classe, processo que tem tido seu eixo nos debates em torno da fusão entre Conlutas (central em que o PSTU detém a maioria) e Intersindical (controlada por setores do PSOL), agrupando também outras correntes, e que avançou no Seminário Nacional realizado em 1 e 2 de novembro em São Paulo. Mais do que nunca se faz urgente a construção de uma alternativa organizativa com um perfil ideológico classista, socialista e capaz de romper com os vícios e métodos de funcionamento que têm entravado as lutas da classe no último período, e que a própria esquerda têm reproduzido.

Daniel M. Delfino
Novembro 2009