3.11.15

Eleições estadunidenses: Nem Obama nem Romney! Por uma alternativa dos trabalhadores!


Em 2008 a chegada ao poder de um negro chamou a atenção do mundo inteiro, como uma espécie de messias que salvaria os Estados Unidos e o mundo da crise e dos odiados neoconservadores da era Bush. Mas a gestão Obama serviu apenas para comprovar que os dois partidos, Democrata e Republicano, são na verdade as duas alas de um partido único, o partido do capital. O governo dos Estados Unidos, qualquer que seja o presidente eleito, está a serviço da burguesia imperialista mais poderosa do mundo, dos setores mais concentrados, brutais e sórdidos do capital mundial: a indústria armamentista, as empresas petrolíferas, as companhias farmacêuticas, as cadeias de varejo transnacionais, as montadoras e maquiladoras, e o campeão entre esses, o mercado financeiro. As guerras e invasões imperialistas, o plano de se apropriar do petróleo do Oriente Médio, o apoio a Israel, o apoio a todos os governos corruptos, autoritários e anti-operários do mundo, a cobertura às transnacionais estadunidenses para extrair mais-valia de centenas de países às custas do sofrimento dos trabalhadores; são deveres fixos de qualquer presidente estadunidense, os quais Obama cumpriu à risca.

Balanço da gestão Obama
Recém-chegado ao poder, Obama tratou de montar um governo bi-partidário (mesmo contando com ampla maioria no legislativo eleita em 2006), em nome de reconstruir a unidade do país para enfrentar a grave crise, preservando figuras chave da gestão anterior, como Ben Bernanke à frente do FED (banco central), Robert Gates (comandante das guerras de Bush) no Pentágono e sua adversária Hillary Clinton como secretária de estado (equivalente a ministro de relações exteriores). Esses nomes garantiam a continuidade da política imperialista, enquanto Obama fazia o papel midiático de “showman”, servindo como testa de ferro do governo.
Uma vez após outra, Obama foi desautorizado por seus subordinados, que desmentiam suas declarações e o reduziam ao ridículo. Os trilionários pacotes de salvamento dos bancos e instituições financeiras, iniciados já no final da gestão Bush, tiveram continuidade e foram ampliados. Os executivos dos bancos resgatados com dinheiro público presentearam a si mesmos com bônus milionários, em meio ao ódio popular, e Obama não fez mais do que lhes passar um sermão sem qualquer conseqüência prática. As investigações sobre os crimes dos “falcões” da era Bush em suas guerras e também dos financistas responsáveis pela crise terminaram em pizza.
Todas as promessas de campanha foram sucessivamente descumpridas: a retirada das tropas do Iraque (onde permanecem contingentes significativos e também mercenários) foi um simples deslocamento para o Afeganistão, o fechamento dos centros de tortura em Guantánamo (Cuba) não aconteceu, a reforma da saúde pública nunca foi nada além de um paliativo, e a mais importante de todas, a retomada do crescimento e dos empregos, ficou só no marketing. As grandes empresas e o mercado financeiro voltaram a ter lucros, mas isso não melhorou a situação dos trabalhadores.

Piora a situação dos trabalhadores
Ao contrário das promessas eleitorais, a miséria avança nos Estados Unidos. Segundo os dados do livro “The rich and the rest of us” (Os ricos e o resto de nós), de Tavis Smiley e Cornel West, “Num país com cerca de 300 milhões de habitantes, 150 milhões estão em pobreza 'persistente' ou perto da pobreza (...). Cerca de 14 milhões de pessoas estão oficialmente desempregadas – neste número não são contabilizadas os cidadãos que já desistiram de buscar emprego. Estes são alguns dos piores índices em mais de 50 anos. Enquanto isso, apenas 400 cidadãos extremamente ricos possuem a riqueza de 150 milhões de pessoas no país.” (Opera Mundi, 26/09). Os pobres ficaram mais pobres e os ricos mais ricos.
Desde o início da crise econômica em 2008, milhões de trabalhadores vêm perdendo seus empregos, suas moradias (por não poder pagar as hipotecas), seus planos de saúde, vendo-se dependentes dos programas de seguro-desemprego e saúde pública para se alimentar e sobreviver. Cenas antes comuns apenas no chamado “terceiro mundo” tornaram-se comuns nos Estados Unidos na era Obama: acampamentos de sem teto nas redondezas das grandes cidades, bairros inteiros transformados em favelas, vendedores ambulantes, pedintes e mendigos nas ruas, doentes morrendo por não poder pagar pelo atendimento hospitalar, crianças desnutridas, etc. O governo Obama não é capaz de reverter esse empobrecimento, e nem tampouco será o seu adversário republicano, que já declarou publicamente que não governará para os pobres.

Crueza do candidato republicano
O atual adversário de Obama, Mitt Romney, é um típico homem de negócio, um grande burguês que representa os conservadores de perfil tradicional. Romney tenta vender uma imagem de gestor competente e critica a política econômica de Obama, propondo um receituário estritamente neoliberal para tirar o país da estagnação: corte de impostos dos ricos e corte de gastos sociais com os pobres. Para Romney, 47% dos eleitores democratas jamais votariam nele porque dependem do Estado, o que em linguagem coloquial equivaleria a dizer que são vagabundos. Essa declaração escandalosa, emitida num evento para arrecadar fundos para a campanha e vazada na internet, é inteiramente condizente com o conteúdo explícito do programa do candidato, mas pode custar a eleição a Romney.
A resposta de Obama foi pronta: no programa de David Letterman o candidato à reeleição disse que “um presidente precisa governar para todos”. A declaração de Romney expunha de forma distorcida a existência da divisão de classes (pobres X ricos, vencedores X perdedores). A resposta de Obama esconde a divisão de classe (o país é de todos). Romney expõe a divisão de classe, com um viés de direita, defendendo a necessidade de mais ataques sobre os trabalhadores. Obama esconde a divisão de classe, para não provocar reações pela esquerda, ou seja, para impedir que haja mobilização dos trabalhadores contra os ataques, que seguirão sendo feitos de qualquer forma.
No atual momento, a burguesia estadunidense prefere não dar motivos explícitos para a mobilização dos trabalhadores e agir de maneira mais sub-reptícia. Para isso, o perfil de Obama parece ser o mais indicado. A escolha da burguesia em torno de qual o seria o gestor mais adequado para o momento deve ser o fator decisivo para as eleições. Conta também o fato de que Obama é o candidato preferido fora dos Estados Unidos. Pesquisa realizada em 32 países mostra Obama com 51% da preferência contra 12% de Romney (UOL, 17/09).

Qualquer que seja o presidente, um inimigo dos trabalhadores
O respaldo do presidente perante determinados países também é importante num momento em que é preciso obter alguma unidade para enfrentar a crise mundial. Entretanto, popularidade de Obama à parte, a unidade será bastante difícil de obter na prática, na medida em que uma das políticas dos Estados Unidos para sair da crise tem sido a ofensiva para reverter o saldo negativo na balança comercial. Uma nova rodada de “alívio quantitativo” foi anunciada em setembro, autorizando o FED a emitir até US$ 40 bilhões por mês, por meio da compra de títulos, para estimular o mercado. Isso vai ter como efeito a desvalorização do dólar perante outras moedas, favorecendo as exportações estadunidenses. Imediatamente, isso provocou protestos de outros países exportadores e temores de uma guerra cambial de desvalorizações.
A guerra comercial precipitada pelos Estados Unidos está por trás dos conflitos entre países exportadores, que vêm suas economias patinando em plena crise mundial. É o caso da recente escalada entre China e Japão, que pouco tem a ver com um punhado de ilhas e mais com as dificuldades de ambas as economias. Da mesma forma, o filme ofensivo aos muçulmanos é uma provocação para fazer com que a nova onda de protestos nos países árabes desfaça a simpatia do mundo inteiro pela primavera árabe: os muçulmanos devem voltar a ser vistos como fanáticos e bárbaros que não respeitam a “liberdade de expressão”. Isso prova que, como qualquer presidente, Obama defenderá os interesses da burguesia estadunidense, externa e internamente.
A necessidade de uma alternativa independente
A vitória de Obama em 2008 foi obtida com uma importante votação dos jovens, dos negros e dos latinos, tradicionalmente os trabalhadores mais explorados nos Estados Unidos. A gestão Obama não melhorou em nada a vida desses setores, que mesmo assim mantém a esperança no candidato democrata. A maior parte dos sindicatos, controlados pela burocracia da central sindical AFL-CIO, colaboraram com o governo Obama assinando acordos de demissão e redução de salários. Em troca, os dirigentes do UAW, sindicato dos trabalhadores das montadoras, ganharam ações e se tornaram sócios da GM quando a empresa foi “reestruturada” pelo governo Obama em 2009! Historicamente, os sindicatos contribuem financeiramente com os democratas e isso se repete em 2012.
Apesar das seguidas demonstrações de obediência ao capital por parte dos democratas, há uma camada de intelectuais, artistas e celebridades que apóiam Obama, com a justificativa de que seu governo está mais “à esquerda” que o dos republicanos... Nesse momento é preciso dizer com todas as letras: Obama é inimigo dos trabalhadores estadunidenses e do restante do mundo, assim como o candidato republicano! Ao invés de votar nos candidatos democratas ou republicanos, os trabalhadores estadunidenses precisam confiar apenas nas suas forças. Só a luta muda a vida, como demonstraram os professores de Chicago e vários outros trabalhadores que têm feito greves por todo o país, de forma ainda incipiente. Também existe luta de classes nos Estados Unidos, e para sair da derrota os trabalhadores precisam construir seus próprios instrumentos e organismos de luta, independentes das duas alas do partido do capital.

Daniel M. Delfino
Setembro 2012







Nenhum comentário: