6.11.15

Nem dia 13, nem dia 15: todos os dias, na luta contra o capitalismo, o Estado e a opressão!



O ponto de partida para entender a atual situação política no Brasil é a economia. O PIB (Produto Interno Bruto, a soma de todos os produtos e serviços realizados no país ao longo do ano) de 2014 ficou estagnado, com crescimento de 0,1% (segundo dados atualizados do IBGE, disponíveis em http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/03/1608985-pib-cresce-01-em-2014-aponta-ibge.shtml). A média do crescimento do PIB no primeiro mandato de Dilma, de 2011 a 2014, foi de 2,2% - o pior resultado de todos os presidentes desde Collor entre 1990-92, que foi de –1,29% (http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/03/alta-media-do-pib-no-governo-dilma-e-menor-desde-mandato-de-collor.html). A queda do crescimento é inaceitável numa economia capitalista, pois o capital só pode existir se conseguir se reproduzir de maneira ampliada, como mais capital, mais valia, ou lucro. O dinheiro precisa gerar mais dinheiro, através da exploração do trabalho para produção e circulação de mercadorias. A ausência de crescimento é sinônimo de crise.
O modelo de crescimento adotado desde a crise mundial deflagrada em 2008, no final do segundo mandato de Lula e ao longo do primeiro governo Dilma, esteve baseado no aumento do consumo interno, através do endividamento. Uma parcela dos trabalhadores e a “classe média” tomaram dinheiro emprestado nos bancos para comprar casas, carros, eletrodomésticos, e isso manteve o crescimento da economia por algum tempo. A porcentagem do crédito em relação ao PIB chegou a 58% em 2014 (dados do Banco Central – http://www.bcb.gov.br/?ECOIMPOM). Em 2003, essa porcentagem era de 24,7% (http://exame.abril.com.br/economia/noticias/credito-pula-de-24-7-para-55-2-do-pib-em-10-anos). Desde o ano passado, esse modelo não está mais funcionando, pois existe um limite além do qual não é mais possível seguir se endividando. É esse cenário que produz a instabilidade e o acirramento da luta de classes que estamos vivendo, e cuja tendência é que se aprofunde.
Não existe golpe em andamento
A queda no crescimento afeta todas as classes sociais, mas de maneiras diferentes. A alta burguesia, os bancos, o agronegócio, as empreiteiras, as montadoras e grandes empresas transnacionais, que controlam os partidos e o Estado, impuseram ao governo Dilma, ainda nas eleições de 2014, o perfil do mandato seguinte: a entrega dos ministérios diretamente a cada fração da burguesia (Joaquim Levy, do Bradesco, no Ministério da Fazenda, Kátia Abreu, do latifúndio, no Ministério da Agricultura, e assim por diante) e um pacote de ajuste contra os trabalhadores, como condição para apoiar o governo.
O PT se comprometeu a aplicar esse programa dos grandes capitalistas, e é por isso que permanece no governo. Afirmamos categoricamente que não existe um processo de golpe em andamento contra o PT. Essa ameaça de golpe é o pretexto para uma chantagem do PT contra a oposição de esquerda, exigindo que se coloque em defesa do governo. Nem sequer o processo de impeachment está colocado, ele existe como uma forma de pressionar o governo a ser mais obediente aos interesses dos grandes capitalistas, e desgastar o PT para as eleições de 2018. Os principais porta-vozes do capitalismo mundial, as revistas “The Economist” e “Forbes” publicaram matérias em que se colocam contra o impeachment de Dilma ou o consideram pouco provável (ver http://www.economist.com/news/americas/21646865-it-would-be-difficult-feat-some-are-trying-impeaching-dilma-rousseff e http://www.forbes.com/sites/kenrapoza/2015/03/25/why-impeaching-brazils-president-dilma-is-a-bad-idea/ ). Os motivos para manter o governo são justamente a necessidade de aplicar os ataques sobre os trabalhadores, com os quais o PT já está comprometido.
Quem ceder a essa chantagem do PT para defender Dilma estará compactuando com os ataques deste governo aos trabalhadores, o pacote de Joaquim Levy, os cortes nas pensões, no PIS e seguro desemprego, a anunciada votação do PL 4330 que pode generalizar a terceirização e a precarização das relações de trabalho, as privatizações, o sucateamento dos serviços públicos, a entrega de mais de 40% para o pagamento da dívida pública, a inflação, o desemprego, etc. É preciso reafirmar a necessidade de construir uma oposição de esquerda ao PT, a partir das lutas concretas, contra a política econômica do governo e do capital.

Contra a falsa polarização PT X PSDB
Somos contra qualquer defesa do governo do PT neste momento (seria outro o caso se houvesse um processo real de golpe), e ao mesmo tempo, denunciamos a falsa polarização entre o bloco do PT e o da oposição patronal liderada pelo PSDB. Ambos os partidos estão comprometidos com o programa de ajustes exigido pelos grandes capitalistas. Para que a economia continue funcionando, do ponto de vista deles, é preciso rebaixar os custos, ou seja, arrochar os salários e rebaixar as condições de trabalho. É preciso também mais ajuda do governo, na forma de empréstimos às empresas, subsídios, isenções fiscais, por isso o governo precisa tirar dinheiro dos serviços que interessam aos trabalhadores, a saúde, a educação, o transporte público, etc. Essas medidas de “austeridade” (e de generosidade extrema para os grandes capitalistas) são parte do programa da classe empresarial contra os trabalhadores, no Brasil e no mundo. Como disse um dos dirigentes da União Europeia, “Os governos podem ir e vir, mas os programas continuam a ser necessários” (http://www.publico.pt/economia/noticia/presidente-do-eurogrupo-os-governos-podem-ir-e-vir-mas-os-programas-continuam-a-ser-necessarios-1595663). Ou seja, qualquer que seja o governo no Brasil, do PT, PMDB ou PSDB, o programa será o mesmo.
Apesar da situação política, com manifestações contra o governo, ameaças de impeachment sendo veiculadas, escândalos de corrupção, descontentamento geral da população, queda brutal da popularidade de Dilma e da aprovação do governo, desaprovação também do Congresso, partidos em geral e várias instituições, etc., entendemos que não está colocada uma crise da dominação burguesa. Ou seja, as instituições continuam funcionando, o Estado continua aprovando leis e medidas contra os trabalhadores, a repressão às lutas continua operante, a polícia e o judiciário continuam atacando as greves e lutas dos trabalhadores, etc. No dia a dia, a reprodução do capital, a ditadura dos patrões sobre os trabalhadores nos locais de trabalho, não está ameaçada. O grau de descontentamento já é muito grande, mas ainda não é suficiente para levar a mobilizações capazes de ameaçar a continuidade do sistema. Ainda temos que trabalhar para isso.

Combater as ideias conservadoras
Parte dessa batalha deve ser travada também na luta contra as ideias conservadoras e reacionárias. Essas ideias se espalham especialmente a partir da chamada “classe media”, a pequena burguesia, pequenos empresários, comerciantes, profissionais liberais, funcionários públicos e assalariados de alta renda, maioria dos que estiveram nas ruas contra o governo no dia 15 de março. É essa camada social que enfrenta o endividamento, a diminuição de sua renda, e na sua extrema ignorância e cegueira individualista, culpa os pobres e o PT pela sua situação. Não percebe que o grosso da riqueza do país é desviado para o pagamento da dívida pública (45% do orçamento da União executado em 2014), que vai cevar os bancos e especuladores, enquanto que a assistência social, ou seja, as bolsas, ficou com apenas 3,08% (dados da Auditoria Cidadã da Dívida – http://www.auditoriacidada.org.br/).
São os bancos que estão empobrecendo o país e também a “classe média”, mas ela culpa os pobres. Na sua versão da realidade, o PT é um partido de corruptos que se mantém no poder aliciando os pobres com bolsas. Por isso, é preciso remover o PT e todo tipo de ajuda aos pobres. Por isso, é preciso se manifestar contra a corrupção, e contra todo tipo de “esquerdismo”, que ela identifica com o assistencialismo, a ajuda aos pobres e minorias, cotas, etc. Esse é o pensamento da maioria dos manifestantes do dia 15. E entre eles, já há uma minoria que defende ideias de ultradireita e fascistas, como a defesa do golpe militar, da pena de morte, da redução da maioridade penal, do separatismo das regiões mais ricas, etc. As seitas religiosas fundamentalistas, com suas ideias machistas, racistas e LGBTfóbicas, pegam carona nesse movimento.

A saída só pode ser dada pela luta dos trabalhadores
Contra as ideias conservadoras, é preciso construir uma alternativa a partir da luta dos trabalhadores. A classe trabalhadora também se coloca em luta no cenário de crise econômica, tentando defender seus salários e condições de vida contra a inflação e os ataques dos governos. Várias greves estão em andamento no momento em que escrevemos este texto, como professores da rede estadual em São Paulo, Pará, Santa Catarina, entre outros. No dia 26/03 houve um dia nacional de luta pela educação. Os garis conseguiram uma vitória econômica e lutam pelo abono dos dias parados no Rio, e estão em greve no ABC e mais de 100 cidades do estado. Metalúrgicos da Volks/ABC e GM/SJC reverteram as demissões, assim como funcionários da Sabesp. Assim como essas categorias, somente por meio da mobilização o conjunto da classe conseguirá barrar os ataques dos patrões e do governo e as ideias reacionárias que se espalham. É preciso unificar as lutas das diversas categorias, e construir um programa e organismos unitários dos trabalhadores.
FORA PSDB E SEU BLOCO, DEFENSORES DO IMPEACHMENT, FORA FASCISTAS E MÍDIA GOLPISTA!
FORA TODOS OS EXPLORADORES! UNIDADE DA CLASSE TRABALHADORA!
POR UM PLANO ECONÔMICO DOS TRABALHADORES!
* Salario mínimo do DIEESE!
* Contra a inflação, abrir as planilhas das empresas!
* Contra os cortes nas pensões e seguro desemprego!
* Direitos trabalhistas para todos, contra a terceirização e o PL 4330!
* Redução da jornada sem redução do salário, até que haja emprego para todos!
* Confisco do dinheiro dos sonegadores na Suíça! Taxação das grandes fortunas!
* Não pagamento da divida e uso desse dinheiro para atender as necessidades dos trabalhadores em saúde, educação, transporte, etc.
POR UM FORUM DE LUTAS ANTIGOVERNISTA E ANTIBUROCRATICO!
CONSTRUIR A GREVE GERAL!
DERRUBAR DILMA E QUALQUER GOVERNO BURGUES POR MEIO DA LUTA DOS TRABALHADORES!
POR UM GOVERNO REVOLUCIONARIO DOS TRABALHADORES BASEADO EM SUAS ORGANIZACOES DE LUTA!

Daniel M. Delfino
Março 2015


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